*
ANTÔNIO NUNES, DE FERREIRO A PRODUTOR DE BANANA
LUIS RENATO THDEU LIMA
*
CAMILLO E IZAURA
VIZINHOS NA YPIRANGA CRESCEM, NAMORAM E SE CASAM
LUIS RENATO THADEU LIMA
O casamento de Camillo e Izaura em 19 de dezembro de 1925.
Camillo Thadeu nasceu em São Vicente no dia 13 de setembro de1897, filho de Luíz Taddeo e Carolina Mauri Taddeo, imigrantes italianos que chegaram ao Porto de Santos e não seguiram para São Paulo, como fazia a maioria dos italianos, mas foram morar na Rua Ipiranga em São Vicente.
Luiz trabalhou como pedreiro na construção do Hotel Internacional (que ficava entre a atual divisa de Santos e São Vicente e o Parque do Emissário). Carolina era costureira e atendia a domicilio as famílias alemãs e inglesas da cidade. Camillo teve três irmãs: Julieta nascida em Montevidéu, Luiza e Maria Elizabeth nascidas em São Vicente.
Para a alteração do sobrenome existem duas versões orais: a primeira de que teria sido feito na imigração, a segunda de que a professora de Camillo teria dito: "Você mora no Brasil e tem que ser Thadeu e não Taddeo". Estudou na Escola do Povo, o Grupão, na Praça Coronel Lopes e terminou o curso primário na Escola Barnabé em Santos.
Em 19 de dezembro de 1925 casou se com Izaura Nunes, filha do imigrante português Antônio Nunes e de Camila Inocêncio de Farias. Eram vizinhos na Rua Ipiranga onde o sogro tinha uma oficina de ferreiro e funilaria e a sogra sua madrinha de batismo (razão de terem o mesmo nome). Eram proprietários também de um sitio na localidade de Itutinga, município de Cubatão, onde plantavam e comercializavam bananas. Antônio Nunes, sogro de Camillo, aparece no edital como proprietário do imóvel de número 30.
Em 23 de setembro de 1926 nasce a única filha de Camillo e Izaura, que recebeu o nome de Neyde.
Camillo e Antônio de Paula Martins (de terno escuro) em Praia Grande nos anos 1930.Ingressou no funcionalismo da Prefeitura Municipal de São Vicente no ano de 1923, quando era prefeito João Francisco Bensdorp, com o cargo de aferidor. Foi desenvolvendo habilidades junto ao Setor de Obras tendo trabalhado na urbanização da Praça 22 de Janeiro, para comemorar o Quarto Centenário de São Vicente em 1932, e nos trabalhos topográficos de loteamento e arruamento da Praia Grande, que na época fazia parte do Município de São Vicente. O trabalho da Praia Grande foi feito em conjunto com o Senhor Antônio de Paula Martins, também funcionário municipal.
Participou ativamente da Revolução Constitucionalista de 1932 encarregado de levar pão e suprimentos, na Estação Ferroviária de São Vicente, para alimentar as tropas. Participava dos desfiles e cerimônias do 9 de Julho com o distintivo da mesma no paletó.
Em 1938 recebeu do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura a autorização para exercer os trabalhos que já vinha realizando na prefeitura com organização de alinhamentos, nivelamentos e construção de plantas.
No ano de 1939 projetou sua residência, que foi construída na Praça Coronel Lopes 138, onde residiu até o ano de 1963. Nos anos de 1970 a casa foi comprada e demolida pelo Bradesco que construiu sua agência no local.
Em 1945 recebeu do CREA sua licença definitiva como Arquiteto Licenciado.
Sua aposentadoria ocorreu no ano de 1947, na gestão do prefeito Doutor Álvaro de Assis, e em seguida foi candidato a vereador sendo eleito pelo antigo PSP para a legislatura 1948 a 1951 com 121 votos.
Continuou trabalhando como Arquiteto em São Vicente sendo de sua autoria o projeto da Vila Santo Antônio, atual Rua José Antônio Zuffo (imigrante italiano que construiu a vila e outros prédios próximos as praças 22 de janeiro e João Pessoa), e também na Praia Grande onde projetou os primeiros edifícios de três andares no Boqueirão e uma Colônia de Férias na Vila Caiçara.
Camilo na Praça Coronel Lopes ainda com o coreto e basicamente residencial.
Foi um dos sócios fundadores do Lions Clube de São Vicente em 1955 e presidente no biênio 1957-1958 permanecendo na entidade até sua morte.
Tinha como hobby o desenho e a pintura sempre reproduzindo a Pedra do Mato, Igreja Matriz, Ponte Pênsil e outros pontos da cidade.
Fez cursos com o professor e artista plástico Romeu da Graça e expôs suas obras no Clube Caiçara em Santos em 1977 pintando flores, naturezas mortas sem nunca abandonar os quadros da sua querida São Vicente.
Nunca abandonou o convívio com os amigos da prefeitura, sendo sempre recebido pelos prefeitos, alguns deles ex-colegas de trabalho ou ex-vereadores como ele. O jornal “A TRIBUNA” fez uma matéria com Camillo sobre a história do prédio da Prefeitura Municipal.
Mas o grande trabalho, para não dizer a grande paixão, da sua vida foi a Irmandade do Hospital São José, fazendo parte da mesa administrativa com o cargo de mordomo, mas supervisionando todas as obras e também a construção da capela e da nova ala na lateral da Rua XV de Novembro. Mesmo bastante idoso, com mais de 80 anos, ia diariamente ao hospital e colaborava com as reformas e manutenções do prédio. Em 1971 teve seu trabalho reconhecido pela Irmandade recebendo o titulo de primeiro irmão jubilado da entidade. Em 1985 ele pediu o cancelamento do seu registro de arquiteto no CREA por estar com 88 anos de idade e considerar cumprida sua missão. Em dezembro do mesmo ano comemorou, com a esposa Izaura, as Bodas de Diamante (60 anos) na Matriz São Vicente Mártir em missa celebrada pelo Monsenhor Geraldo Borowski com a presença de familiares e amigos.
Sua filha Neyde conheceu seu esposo Célio Carvalho Lima num baile de Carnaval no Clube Tumiaru. Casaram em 1955 e tiveram três filhos: Luis Renato, Cícero e Camila Maria, nascidos na maternidade do Hospital São José. Vive atualmente em Casa Branca, cidade da família de seu esposo, e vai completar 97 anos em 23 de setembro de 2023. Têm cinco bisnetos Nathalia, Gabriel, Thiago, Felipe e Bruno e duas trinetas Julia e Betina, todos residentes em Casa Branca e Campinas no Estado de São Paulo e Belford Roxo e Cabo Frio no Rio de Janeiro.Camillo Thadeu faleceu em 26 de janeiro de 1987 em São Vicente aos 89 anos, e sua esposa Izaura Nunes Thadeu em 22 de setembro de 2007 aos 101 anos.
Este é o legado de um filho de imigrantes italianos que nasceu, viveu e amou São Vicente e dedicou toda a sua vida em favor da comunidade que acolheu seus pais e irmãs. Foi verdadeiramente um “calunga” no significado de quem se prende a um lugar e ali quer descansar (como definido pelo Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente). Por mais que criticasse ou ficasse triste com a situação de São Vicente nunca passou pela sua cabeça morar em outra cidade ou deixar de colaborar com qualquer iniciativa que pudesse contribuir para o bem estar da comunidade.